
Hellraiser (1987) teve um grande impacto sobre mim na primeira vez em que o assisti. Tinha uns vinte e poucos anos já, mas quando o filme acabou eu tremia feito criancinha. O medo que me assaltou foi genuíno, e várias cenas dessa obra prima do cinema de horror tomaram meus piores pesadelos durante um bom tempo.

Hellraiser é um marco cinematográfico, isso é inegável. A trilha sonora de Christopher Young é maravilhosa em sua grandiosidade (recentemente ele fez a do Arrasta-me Para o Inferno (Sam Raimi, 2009), o que por certo é a maior qualidade do filme), e acentua a aura de conto de fada grandguignolesco impregnado nesse filme (nós, gorehounds, amamos os hectolitros de sangue e tripas derramados nessa história!). Clive Barker, autor do livro que deu origem ao filme, The Hellbound Heart (1986), fez um maravilhoso début na direção com essa maravilha gore.
E então, em 1988, veio a seqüência, Hellraiser II: Hellbound, desta vez dirigida por Tony Randel (que, pelo que vi no IMDB - minha bíblia virtual de cinema ultimamente - não dirigiu outras coisas lá muito significantes). A trilha é, mais uma vez, de Young, e Barker foi um dos produtores executivos.



O nascimento de um novo deus... truly gore!!!


... indo para o calabouço...
Hellraiser II tem um tom de conto de fada mais acentuado que o primeiro, somado a uma série de referências ao cinema de horror (por exemplo, há uma cena que é uma forte referência ao A Noiva de Frankenstein (1935), dirigido por James Whale). É puro horror gore, mas ao contrário de Hellraiser, não assusta. É uma fantasia sanguinolenta - sim, é de ficar enojado, horrorizado (hmmm... oh yeah!!!), fascinado pela beleza plástica do sangue e das vísceras descarnadas... mas faltou um pouco daquele sense of dread do primeiro. Não é, porém, essa falta que o desqualifica, e sim algumas sequências desajeitadas (a dancinha do Dr. Channard com Julia, por exemplo) e o final, totalmente desnecessário.
Em suma, Hellraiser II não tem o toque especial da direção de Barker e não é a obra prima que o primeiro sem sombra de dúvida é, mas merece ser visto. Esteticamente o filme é excelente: as sequências mais oníricas (visceralmente oníricas) lembraram o primeiro A Hora do Pesadelo (Wes Craven, 1984 - o pesadelo de Nancy em que Tina aparece morta e ensacada me veio à cabeça) e quando o gore entra em cena é para nos fazer chafurdar (num ótimo sentido!) em tripas, gosma e afins. Hellraiser II é, em suma, uma grande celebração do sangue e das pulsões e interiores corpóreos. Aqui a morte é um infernal labirinto de carne em agonia.