segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hardware (1990)



"You can't stop progress". A tagline se encaixa muito bem nessa obra gore e niilista. E o que é o progresso em Hardware, de Richard Stanley? Um programa de controle de natalidade num mundo pós-apocalipse nuclear. Parte desse programa é o brutal robô Mark-13, uma máquina de matar que não poupará nenhuma carne.
Esse caráter de controlador da natalidade fica curiosamente claro na parte em que Mo e Jill, o casal de protagonistas, transa apaixonadamente. Não é somente o pérfido vizinho voyeur de Jill, Lincoln (argh, aquele gordinho é realmente asqueroso) que observa a cena. Mark-13 desperta naquele momento, e seus olhos robóticos, vermelhos infernais, registram tudo. Pouco depois que o enlace sexual acaba, quando Mo deixa Jill adormecida na cama para tratar sobre o robô com seu amigo Alvy, Mark-13 se reconstrói - esse momento lembra muito o "renascer" de Frank Cotton em Hellraiser (1987) - e se prepara para destroçar a mocinha. A punição pelo sexo, fator primordial do "crescei e multiplicai-vos", é a morte pelo metal.



O chuveiro, antes palco de uma tórrida cena de sexo, se torna uma pequena arena de luta pela vida. Lugar da pulsão de vida, representada pela sexy e enérgica Jill, e da pulsão de morte, representada pelo implacável Mark-13.

(Um pequeno parênteses: isso lembra duas regras de ouro para sobrevivência nos slashers adolescentes dos anos 80: não transe e não se drogue - Jill fuma váááários baseados durante o filme. "The vice that precedes the slice-and-dice", como nos diz John Muir em seu Horror Films of the 1980's, de 2004)


Boa parte do filme, a partir daí, se passa dentro do apartamento de Jill. O centro da narrativa passa a ser o duelo entre ela e o robô que sintetiza em seu corpo maquinal as mais variadas formas de matar. Os que tentam entrar naquela arena claustrofóbica para ajudar a mocinha acabam virando pedaços ensanguentados de carne. Nem mesmo Mo, o "mais apto" segundo suas próprias palavras, consegue acabar com aquele pesadelo metálico. Sua morte é trágica, no sentido mais grego possível da palavra.


Hardware é uma tragédia pós-apocalíptica. Não há esperança alguma para aquela humanidade que mal tem comida para si e vive sob o medo constante de uma contaminação radioativa (vejam como Jill recebe Mo e Shades em seu apartamento). Vem à cabeça os "Filhos do Átomo" de Giger: uma descendência nuclear de seres humanos sem perspectiva de sobrevivência, de futuro. "There is no good news!", brada Angry Bob (Iggy Pop, excelente escolha de Stanley) em seu programa de rádio, resumindo todo o espírito niilista dessa obra.


Atenção: Hardware foi lançado recentemente nos EUA em edição dupla, cheia de extras e com excelente qualidade de imagem e som. E não é a versão da Disney, que corta boa parte do gore. Para quem quiser ter essa raridade em casa: custa US$ 29,90 e está à venda no site da Amazon.
(Aliás, devo avisar que conseguir esse filme foi uma verdadeira odisséia para mim, o que merece mais um parênteses. Quando minha encomenda chegou, com alguns dias de atraso, veio sem um dos DVDs - justamente o do filme! Fiquei furiosa, e imediatamente mandei um e-mail para a Amazon pedindo providências. A equipe foi extremamente atenciosa: responderam-me de pronto e me disseram que eu podia ficar com o produto "defeituoso" e que eles mandariam outro, sem nenhum custo adicional. Isso realmente aconteceu, chegou há dois dias. Porém fiquei um tanto frustrada porque o DVD do filme veio com alguns riscos, bem no começo. Grrrrrrr!!!!! Mas até aí a culpa não foi deles, é coisa do transporte mesmo, via correio, que foge um pouco do controle da empresa. Não vou cobrar de novo, cansei. Alguém aí conhece algum lugar em Campinas que tenha um "tira-risco"?)
Para quem quer ter um gostinho do que é esse filme, veja o trailer aqui.

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