Freddy (Thom Matthews) sente não a dor de morrer, e sim a de estar morto.
Os eventos se desenrolam às vésperas do maior feriado nacional (e nacionalista) dos Estados Unidos: 4 de Julho, Dia da Independência Americana. É óbvio que situar a narrativa nessa data tem conotações políticas. O Dia da Independência não é somente o dia em que os mortos se libertam de suas sepulturas: ironicamente, é o dia em que cidadãos americanos, que se pensam livres e protegidos por uma Constituição que inspirou os ideais da Revolução Francesa, são bombardeados por seu próprio governo. Uma cidade inteira é destruída por uma bomba nuclear para que as sujeiras de governantes e militares vão para debaixo do tapete, ou melhor, da terra.
"Propriedade das Forças Armadas. Em caso de emergência, ligue..." e seja bombardeado, literalmente.
Trash (Linnea Quigley) fantasia sobre a "pior forma de morrer" pouco antes de descobrir, da pior maneira, que não há sensualidade alguma na morte.
"Mioooooolos!!!!!!" Um morto (Allan Trautman) em uma das poucas sequências engraçadas do filme.
Mais uma pitada de riso amargo: o defunto (John Durbin) pede por mais paramédicos como quem pede pizza.
Some o riso. Um gosto amargo vem à boca especialmente durante o breve interrogatório de um cadáver. "Por que vocês comem cérebros?", pergunta um dos vivos. "Alivia a dor de estar morto", responde o defunto em agonia. Eis uma dimensão que os demais filmes de zumbi (nem mesmo o Night of the Living Dead (1968) de Romero) não contemplou: morrer está longe de ser um alívio na mais plena inconsciência. Dói tanto que só resta aos mortos devorar os miolos dos vivos.
O riso se torna angústia com a revelação desta defunta (Cherry Davis).
Em resumo: A Volta dos Mortos Vivos não é um "terrir". Shawn of the Dead (Edgar Wright, 2004) o é, sem dúvida: as risadas são frequentes e o final é bastante otimista. Em Volta o espaço para risadas é claustrofóbico e o final é arrasador. Aqui a morte é só o começo de mais uma tragédia do corpo: o doloroso e lento apodrecer.
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