domingo, 23 de maio de 2010

"Último Adeus", de Alfredo Oliani

Eu passeava por entre imagens na internet de esculturas brasileiras quando topei com a foto acima. Ela me arrebatou por completo, ainda mais quando soube da história por trás de uma das mais belas declarações de amor que já vi.
Esse é o túmulo da família Cantarella. Ali, lado a lado, estão enterrados Antônio e Maria. Ele morreu em 1942, perto do Natal, aos 65 anos. Ela viveu por mais 40 anos, imersa em saudade. Foi Maria quem encomendou a escultura a Alfredo Oliani (1906-1988) por ocasião da morte do marido. Ela pediu para que o retratasse em plena vida, vivíssimo em sua memória, e ela, como mulher morta. Morta-viva pela ausência infinita do homem por quem choraria até ela mesma, afinal, repousar junto a ele nos campos subterrâneos da morte.
Antônio e Maria Cantarella descansam ad infinitum. Seu amor, jamais: eternizado na Necrópole de São Paulo, pulsa cheio de vida em meio a pedras e cadáveres.

domingo, 16 de maio de 2010

RIP Dio (1942-2010)



Um dos melhores vocalistas do rock n'roll e do heavy metal morreu esta manhã (16.05.2010), aos 67 anos. Sua voz potente e espontânea, sem floreados de falsetes nem a rispidez do thrash metal deu um melódico peso ao Black Sabbath (cinco álbuns) e era a alma do Rainbow (1975-1978), banda de Ritchie Blackmore, ex-guitarrista do Deep Purple.





Eis o melhor álbum da banda (aliás, um dos melhores - senão o melhor - da carreira de Dio):


Os fãs de Blackmore que me perdoem, mas, apesar de obviamente reconhecer seu inestimável valor como guitarrista (mais que inestimável: arrasador!), não o vejo como a figura principal do Rainbow (a despeito de o Rainbow ser "Ritchie Blackmore's"). Como eu já disse antes: era Dio a alma da banda. Neste vídeo meu ponto de vista se evidencia.

"Long live rock n'roll"! Pena que longa vida não teve o cantor. Sua voz autêntica e poderosa jamais será um cadáver enquanto houver rock n'rollers de bom gosto.

RIP, Dio.


sábado, 20 de março de 2010

Rondo Awards

O troféu foi esculpido por Kerry Gammill, um dos criadores do Rondo Awards e é uma miniatura do busto do ator Rondo Hatton (1894-1946) , conhecido por seus traços singulares, que atuou em House of Horrors (1946), filme da Universal Studios.

Atenção fãs do cinema de horror: votem no Rondo Awards, prêmio criado por David Colton e Kerry Gammill no site The Classic Horror Film Board em 2002. A premiação é votada por fãs e não há nenhum patrocinador comercial para ela.
O prazo para votação iniciou-se em 21 de fevereiro e terminará no dia 03 de abril, à meia-noite. Mais informações sobre o prêmio no site do Rondo Awards, aqui ou no banner no topo deste blog.
Um obrigada a Tim Lucas. Foi graças a uma de suas postagens em seu perfil no Facebook que tomei conhecimento do Rondo. Thanks, Tim!!!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Parênteses


Um parênteses em meio ao sangue e às tripas: a ganhadora do Framboesa de Ouro de Pior Atriz premiada no Oscar? Nada contra esta simpática atriz que se esforça em seu meio. Não vi "Um Sonho Possível"; o que vi até hoje da atuação de Bullock não é exatamente memorável, apesar do esforço. Talvez eu mude de idéia ao ver o filme que a premiou com a cobiçada estatueta, mas acho um pouco difícil isto acontecer.
Anyway... congratulations, Sandra! Talvez você mereça o Oscar por sua simpatia.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hardware (1990)



"You can't stop progress". A tagline se encaixa muito bem nessa obra gore e niilista. E o que é o progresso em Hardware, de Richard Stanley? Um programa de controle de natalidade num mundo pós-apocalipse nuclear. Parte desse programa é o brutal robô Mark-13, uma máquina de matar que não poupará nenhuma carne.
Esse caráter de controlador da natalidade fica curiosamente claro na parte em que Mo e Jill, o casal de protagonistas, transa apaixonadamente. Não é somente o pérfido vizinho voyeur de Jill, Lincoln (argh, aquele gordinho é realmente asqueroso) que observa a cena. Mark-13 desperta naquele momento, e seus olhos robóticos, vermelhos infernais, registram tudo. Pouco depois que o enlace sexual acaba, quando Mo deixa Jill adormecida na cama para tratar sobre o robô com seu amigo Alvy, Mark-13 se reconstrói - esse momento lembra muito o "renascer" de Frank Cotton em Hellraiser (1987) - e se prepara para destroçar a mocinha. A punição pelo sexo, fator primordial do "crescei e multiplicai-vos", é a morte pelo metal.



O chuveiro, antes palco de uma tórrida cena de sexo, se torna uma pequena arena de luta pela vida. Lugar da pulsão de vida, representada pela sexy e enérgica Jill, e da pulsão de morte, representada pelo implacável Mark-13.

(Um pequeno parênteses: isso lembra duas regras de ouro para sobrevivência nos slashers adolescentes dos anos 80: não transe e não se drogue - Jill fuma váááários baseados durante o filme. "The vice that precedes the slice-and-dice", como nos diz John Muir em seu Horror Films of the 1980's, de 2004)


Boa parte do filme, a partir daí, se passa dentro do apartamento de Jill. O centro da narrativa passa a ser o duelo entre ela e o robô que sintetiza em seu corpo maquinal as mais variadas formas de matar. Os que tentam entrar naquela arena claustrofóbica para ajudar a mocinha acabam virando pedaços ensanguentados de carne. Nem mesmo Mo, o "mais apto" segundo suas próprias palavras, consegue acabar com aquele pesadelo metálico. Sua morte é trágica, no sentido mais grego possível da palavra.


Hardware é uma tragédia pós-apocalíptica. Não há esperança alguma para aquela humanidade que mal tem comida para si e vive sob o medo constante de uma contaminação radioativa (vejam como Jill recebe Mo e Shades em seu apartamento). Vem à cabeça os "Filhos do Átomo" de Giger: uma descendência nuclear de seres humanos sem perspectiva de sobrevivência, de futuro. "There is no good news!", brada Angry Bob (Iggy Pop, excelente escolha de Stanley) em seu programa de rádio, resumindo todo o espírito niilista dessa obra.


Atenção: Hardware foi lançado recentemente nos EUA em edição dupla, cheia de extras e com excelente qualidade de imagem e som. E não é a versão da Disney, que corta boa parte do gore. Para quem quiser ter essa raridade em casa: custa US$ 29,90 e está à venda no site da Amazon.
(Aliás, devo avisar que conseguir esse filme foi uma verdadeira odisséia para mim, o que merece mais um parênteses. Quando minha encomenda chegou, com alguns dias de atraso, veio sem um dos DVDs - justamente o do filme! Fiquei furiosa, e imediatamente mandei um e-mail para a Amazon pedindo providências. A equipe foi extremamente atenciosa: responderam-me de pronto e me disseram que eu podia ficar com o produto "defeituoso" e que eles mandariam outro, sem nenhum custo adicional. Isso realmente aconteceu, chegou há dois dias. Porém fiquei um tanto frustrada porque o DVD do filme veio com alguns riscos, bem no começo. Grrrrrrr!!!!! Mas até aí a culpa não foi deles, é coisa do transporte mesmo, via correio, que foge um pouco do controle da empresa. Não vou cobrar de novo, cansei. Alguém aí conhece algum lugar em Campinas que tenha um "tira-risco"?)
Para quem quer ter um gostinho do que é esse filme, veja o trailer aqui.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Metalosis Maligna - An Extraordinary Disease


Confiram este curta do jovem holandês Floris Kaayk. É seu trabalho de conclusão de graduação na Escola de Arte e Design de Edimburgo.

É digno das maiores obsessões cronenberguianas pela fusão entre carne e máquina! Cliquem aqui para verem uma entrevista com Kaayk falada em holandês e legendada em inglês.

Isso é que é domínio de recursos digitais. Kaayk mescla animação de computador com imagens de vídeo de uma forma ainda pouco vista, o que torna Metalosis Maligna assustadoramente realista.

Aos portadores de próteses metálicas , "be afraid, be very afraid".

sábado, 23 de janeiro de 2010

Killing Time # 1 - "I'm gonna suck your brain dry!" (Darryl Revok)

Cameron Vale (Stephen Lack) luta contra o mal encarnado em seu irmão, Darryl Revok (Michael Ironside rules!)



O mais gore dos duelos entre telepatas visto no cinema está em Scanners (1981). Só podia mesmo ter saído do cérebro de David Cronenberg, sempre pronto a explodir as cabeças dos espectadores incautos. Confiram aqui.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Return of the Living Dead (1985)









A Volta dos Mortos Vivos é um "terrir"?


Seria exato assim denominar um dos filmes de horror mais niilistas dos anos 80, dirigido por Dan O'Bannon (RIP),cineasta e roteirista bastante conhecido pelo roteiro de Alien (Ridley Scott, 1979)?

"Terrir" não parece ser uma boa definição para Volta, apesar do tom de comédia que o toma alguns de seus momentos. Na verdade, a comédia aqui é ácida e amarga. Esse filme tem dimensões trágicas: todos morrem, e o pior de tudo é que dói estar morto.


Freddy (Thom Matthews) sente não a dor de morrer, e sim a de estar morto.


Os eventos se desenrolam às vésperas do maior feriado nacional (e nacionalista) dos Estados Unidos: 4 de Julho, Dia da Independência Americana. É óbvio que situar a narrativa nessa data tem conotações políticas. O Dia da Independência não é somente o dia em que os mortos se libertam de suas sepulturas: ironicamente, é o dia em que cidadãos americanos, que se pensam livres e protegidos por uma Constituição que inspirou os ideais da Revolução Francesa, são bombardeados por seu próprio governo. Uma cidade inteira é destruída por uma bomba nuclear para que as sujeiras de governantes e militares vão para debaixo do tapete, ou melhor, da terra.





"Propriedade das Forças Armadas. Em caso de emergência, ligue..." e seja bombardeado, literalmente.


Os amigos punks de Volta têm razão: todos vão morrer, e o mundo que os cerca é um lixo. Lixo tóxico, lixo político. Os habitantes daquela cidadezinha são tão descartáveis quanto os mortos que se erguem das tumbas.



"No Future": inscrição muito apropriada às portas do Resurrection Cemetery, para onde a turma punk vai zoar e falar sobre morte.




Trash (Linnea Quigley) fantasia sobre a "pior forma de morrer" pouco antes de descobrir, da pior maneira, que não há sensualidade alguma na morte.

Frank e Freddy são os personagens que arrancam risadas no filme, além do cadáver falante ("Braaaaaainnsss!") trancado no porão da Uneeda Medical Supply. Frank (James Karen, o Mr. Teague do primeiro Poltergeist) é um senhor, mas comporta-se como um moleque ao mostrar para Freddy, um jovem curioso, o segredo militar que deveria ser mantido na escuridão daquele subsolo. Gradativamente o riso dá lugar a um terrível desconforto à medida que os dois, algum tempo depois de serem contaminados pela Trioxina (o gás que faz os mortos reviverem), começam a entrar em rigor mortis.



"Mioooooolos!!!!!!" Um morto (Allan Trautman) em uma das poucas sequências engraçadas do filme.

Mais uma pitada de riso amargo: o defunto (John Durbin) pede por mais paramédicos como quem pede pizza.


Some o riso. Um gosto amargo vem à boca especialmente durante o breve interrogatório de um cadáver. "Por que vocês comem cérebros?", pergunta um dos vivos. "Alivia a dor de estar morto", responde o defunto em agonia. Eis uma dimensão que os demais filmes de zumbi (nem mesmo o Night of the Living Dead (1968) de Romero) não contemplou: morrer está longe de ser um alívio na mais plena inconsciência. Dói tanto que só resta aos mortos devorar os miolos dos vivos.


O riso se torna angústia com a revelação desta defunta (Cherry Davis).

Em resumo: A Volta dos Mortos Vivos não é um "terrir". Shawn of the Dead (Edgar Wright, 2004) o é, sem dúvida: as risadas são frequentes e o final é bastante otimista. Em Volta o espaço para risadas é claustrofóbico e o final é arrasador. Aqui a morte é só o começo de mais uma tragédia do corpo: o doloroso e lento apodrecer.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Morbid Anatomy



Àqueles interessados, como eu, nas manifestações artísticas da morte, segue a dica de um blog excelente: Morbid Anatomy - surveying the interstices of art and medicine, death and culture. A autora do blog é uma designer gráfica nova-iorquina (ah, mais uma vez, as mulheres!), Joanna Ebenstein.

Confiram o recente post (20.01.2010) sobre Frederik Ruysch (1638-1731), um fantástico anatomista holandês, que além de quadros e gravuras anatômicas (de bebês e fetos principalmente), deixou partes de cadáveres infantis muito bem conservados (a foto acima é um dos espécimes, e é espantoso ver como parecem até ter vida após quase quatro séculos).

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

High Fashion Crime Scenes


Melanie Pullen: Miu Miu (2005).


Um nome a ser gravado: Melanie Pullen. Essa fotógrafa nova-iorquina de 35 anos merece definitivamente estar nos pensamentos dos amantes das mais mórbidas manifestações artísticas. Suas fotografias são fantásticas recriações de cenas de crime reais com um toque fashion. Na foto acima, a modelo/vítima veste Miu Miu, uma das mais consolidadas grifes européias.


Pullen é fascinada por cenas de crime desde que teve contato com o livro Evidence (1914-1919), de Luc Sante, publicado em 1992. Esse livro traz fotos de cenas de crime do Departamento de Polícia de Nova York e as histórias por trás de cada uma delas. Foi justamente daí que a artista tirou sua inspiração.

Melanie Pullen: Phones (2005).


O glamour mórbido nas fotos de Melanie Pullen são um paralelo (não creio que seja exatamente uma crítica, como o que está exposto na biografia da artista, porque essas imagens parecem ter sido feitas com curiosidade, fascinação e com um prazer de quem está explorando novas intensidades nas artes fotográficas) do que vemos em filmes de horror, como Hellraiser II: a beleza que reside no sangue, no esvair-se, no ser morto e, especialmente na obra dessa fotógrafa, na morte em si, posta em cena dramaticamente. As vítimas são mulheres fashion, vestidas para morrer. Lindas de matar.

Mais High Fashion Crime Scenes e informações sobre Melanie Pullen estão em seu site oficial.